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arte engajada e seus públicos
(J 955/1968)
Marcos Napolitano
Ao longo deste ensaio vou propor uma perspectiva para se pensar a trajetória da arte engajada nos anos 60, a qual tentará articular a relação entre as formas de expressão artística dos autores engajados e os públicos receptores dessas obras. Delimitarei minha análise em três áreas de expressão: o teatro, o cinema e a música. Essas três "artes de espetáculo", confollne a expressão de
Roberto Schwarz (1 978: 63) ocuparam a cena principal numa época de "relativa hegemonia cultural da esquerda", entre a segunda metade dos anos 50 e o final da década de 60. No caso da música popular, os anos 60 consolidaram um verdadeiro "sistema" musical-popular, articulando "autor-obra-público-crítica" e instaurando uma nova maneira de pensar e viver a música popular em nosso país. Se a literatura, como campo privilegiado de elaboração do pensamento crítico da esquerda, era substituída pelo teatro, pela música e pelo cinema, veículos privilegiados nos anos 60, por outro lado, essas três artes, renovadas, tornavam-se mais "literárias",
ESludos Hisl6ricos, Rio de Janeiro, nO 28, 2001, p. 103-124.
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estudos históricos . 2001 - 28
No teatro, a articulação com a tradição literária até poderia ser consi derada "natural", na medida em que a sua linguagem opera com a palavra como material básico de expressão ao lado do gesto, palavra esta voltada para o drama, para o ato da encenação, e não para a leitura. Mas na música (popular) e no cinema, a relação com a literatura (em seus diversos níveis), até então, fora mais episódica e incomum, e suas articulações com a literariedade parece ser um dos pontos mais marcantes da renovação dessas duas artes no Brasil dos anos 60. Podemos considerar que houve uma mudança estrutural na linguagem, que operou não só a renovação do fazer musical e cinematográfico, mas também acabou por consti tuir uma nova estrutura de recepção - um novo público - "jovem, universitário, de esquerda",