2 Boris Fausto estado trabalhadores burguesia
E BURGUESIA INDUSTRIAL (1920-1945):
UMA REVISÃO
Boris Fausto*
O tema da classe operária sob sua forma clássica saiu de moda. Quase já não há estudos com preocupações generalizantes, voltados para as questões da formação do proletariado, da sua inserção no sistema sócio-político, das formas organizatórias convencionais (sindicatos e partidos), dos movimentos sociais ostensivos — com a greve em primeiro lugar —, das grandes linhas ideológicas.
Além disto, a classe operária foi incorporada como objeto conspícuo de estudo acadêmico, dando lugar a outros setores sociais como vadios, criminosos, feiticeiras, em vias aliás de rápida nobilitação. As fronteiras entre o público e o privado se confundiram. Pouca gente sustentaria hoje que o estudo do gesto, do traje, do "sentimento" mais do que das
"mentalidades" não tem uma profunda significação social. Quando o tema da classe trabalhadora aparece em cena, o recorte se ajusta às novas inclinações. O feminismo incentivou os trabalhos sobre a mulher operária, a antropologia apontou o caminho da análise ritual de cerimônias e manifestações, as formas de dominação e representação no nível da fábrica ganharam relevância, a vida do operário enquanto consumidor surgiu como a outra face da preocupação com a vida no processo específico de trabalho. A exploração destes caminhos é de inegável importância. Através dela vamos saindo de um mar de preconceitos e verdades sabidas. Aprendemos ou recuperamos constatações de que obviamente uma sociedade desigual não se nutre apenas de desigualdades de classe ou de raça, de que a análise formal de manifestações nos diz tanto ou mais acerca de seu sen6
(*) Agradeço a leitura e as observações de Carlos e
Cynira Fausto e de Luiz
Felipe de Alencastro.
NOVOS ESTUDOS No 20 - MARÇO DE 1988
tido do que objetivos racionais expressos, de que as classes dominadas podem encontrar formas organizatórias não redutíveis aos sindicatos ou aos partidos, de que as representações