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O filho eterno: resenha crítica
Maria Beatriz Zanchet1
TEZZA, Cristovão. O filho eterno eterno.. Rio de Janeiro: Record, 2007. 222p.
O filho eterno, de Cristovão Tezza, romance de uma crueldade produtiva, se afigura como uma brilhante reflexão sobre a necessidade e a importância da ação do tempo para operar o ciclo da maturação/amadurecimento. Este ciclo se justifica porque plasma duas variáveis significativas de um problema que a crítica literária tem, ao longo de sua história, tratado de forma dicotômica: o narrador e o autor, o sujeito real e o personagem, o escritor e o protagonista, ou ainda, quaisquer outros aportes demonstrativos que se queira dar para separar o homem que escreve da ficção que ele escreve. Assim, o romance abre caminhos inovadores para que se discuta a tão famigerada relação entre vida e obra, autobiografia e ficcionalidade, como se a ficção pudesse, de per se abdicar da história ou como se a realidade não pudesse adentrar os labirintos da subjetividade vital por considerála, aprioristicamente, o reino positivista da neutralidade.
Dividido em vinte e cinco capítulos, não numerados, o romance é introduzido por duas epígrafes significativas: a primeira, de Thomas Bernhard, apresenta o conflito entre o desejo pela descrição fiel da verdade e o resultado dessa descrição; a segunda, de S. Kierkegaard, aponta a reflexão especular entre pai e filho, tema de que se ocupa o livro em suas duzentas e vinte e duas páginas: as vicissitudes, o calvário e as amarras de um jovem escritor ao receber a notícia de que seu primeiro filho era portador da Síndrome de Down e a peregrinação vital em torno desse fato até sua liberta aceitação.
Consagrado pela crítica, vencedor do prêmio de ficção da Associação Paulista dos Críticos de Arte, considerado como romance destaque de 2007, O filho eterno é, seguramente, das melhores criações ficcionais – senão a melhor – de Cristóvão Tezza. Professor da UFPR, doutor na área de Letras, nascido em 1952, o