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Mulheres e homens luteranos: leituras feministas e identificações com o feminismo em tempos de ditadura militar no Brasil (1964-1989)
Claudete Beise Ulrich*
Introdução
Ah, eu acredito que o que me motivou assim a trabalhar dentro do
Pastorado foi sempre aquela questão de ajudar mulheres a acharem o seu espaço, de ocupar o seu espaço, e de acreditar nas suas potências.
E a leitura de uns livros bem arrojados, né... O Relatório de Hite, que falava sobre toda a sexualidade feminina. Então, isso foi muito importante... poder conversar com os jovens sobre o prazer, o cor po, a sexualidade (Panke, 2008, p. 6).
Rita, a primeira pastora a assumir o ministério pastoral na Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), em 1976, em Candelária, interior do Rio Grande do Sul, destacou que seu trabalho esteve ligado com o “ajudar” as mulheres a encontrarem e ocuparem o seu espaço. Ela indicou a leitura de livros “arrojados” e citou, c omo exemplo, O Relatório Hite, apontando para a sexualidade feminina, o corpo e o direito ao prazer.
Essa leitura não foi somente uma leitura pessoal, mas o livro foi lido coletivamente com grupos de jovens1 . A pastora, em plena ditadura militar
*
Pesquisadora do Laboratório de Estudos de Gênero e História (LEGH) da Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC)
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A autora deste artigo fez parte desse grupo de jovens e também leu o Relatório Hite. Creio que foi a minha primeira leitura feminista.
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10/4/2010, 09:02
ULRICH, Claudete Beise. Mulheres e homens luteranos: leituras feministas e identificações...
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brasileira, fez uso da leitura do Relatório Hite em seu trabalho pastoral, discutindo-o com grupos de jovens. A sexualidade, nesse período histórico, começou a ser discutida de forma mais aberta, saindo do mundo privado2 . O tema da sexualidade, desvinculado da procriação, era parte essencial da chamada “revolução cultural” (vf. HOBSBAWM (1995), uma das lutas principais do movimento