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Religião e sociologia
Saulo Baptista1
A abordagem da religião pela sociologia é um empreendimento complexo e ao mesmo tempo compulsivo.
Nos escritos de Auguste Comte, as religiões tradicionais eram tratadas como estorvo ao progresso da ciência, mas, ao mesmo tempo, ele julgava imprescindível o estabelecimento de uma religião civil para a nova sociedade, tendo-se incumbido de formular suas doutrinas. No primeiro caso, ele estava rejeitando as religiões como
“explicadoras” dos fenômenos da natureza e da sociedade, convencido de que a ciência iluminista cumpria cabalmente este papel. No segundo caso, ele sentia necessidade de instituir um edifício místico que garantisse sentido e coesão aos grupos constituintes da sua tão cara sociedade moderna.
Durkheim definiu o objeto da Sociologia, o fato social em si, como algo inconfundível, irredutível e insofismável, nas “regras do método sociológico” (1895). Mas, não muito depois, dedicou-se à análise das “formas elementares da vida religiosa”, inaugurando assim os trabalhos sistemáticos de sociologia da religião. Fiel à sua definição de “fato social”, ele tratava religião como “um sistema solidário de crenças e de práticas relativas a coisas sagradas, isto é, separadas, proibidas, crenças e práticas que reúnem numa mesma comunidade moral, chamada igreja, todos aqueles que a elas aderem”2.
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Mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Pará. Doutorando em Ciências da Religião na Universidade Metodista de São Paulo.
DURKHEIM, Émile. As formas elementares da vida religiosa: o sistema totêmico na Austrália. Tradução de Paulo Neves. São Paulo: Martins Fontes, 1996, p. 32.
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S a ul o B a pt i s t a
Ao se debruçarem sobre a análise da sociedade, sua composição, tessitura, relações e fenômenos imanentes, dinâmica de funcionamento e desenvolvimento, contradições, enfim, ao tentarem apreender o sentido dessa formação humana, os clássicos da