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A FENOMENOLOGIA E A EPOCHÊRenato da S. MARTINI1
A fenomenologia é a mais radical realização do racionalismo; mas ao mesmo tempo pode ser definida como a mais radical realização do empirismo.
E. Husserl
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RESUMO: Este artigo tenta dar uma visão geral sobre a epoché fenomenológica, relacionando-a ao problema da constituição do saber fenomenológico, e também da fundamentação da Ciência. A epoché, formulada assim de forma universal é considerada como uma alteração radical da atitude natural.
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PALAVRAS-CHAVE: Fenomenologia; atitude natural; redução fenomenológica; epoché; ceticismo; transcendental.
O intento deste artigo não é dar uma visão que esgote o tema da epoché husserliana. Também não intentamos um estudo comparativo que aborde o conceito supra-referido em seu desdobramento fenomenológico ante sua criação, entre os céticos gregos.
Devemos, isto sim, notar como Edmund Husserl usou o conceito de epoché, sem dúvida alguma um conceito-chave na fenomenologia, para
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Departamento de Filosofia – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-Rio – 22453900 – Rio de Janeiro – RJ – Brasil.
Trans/Form/Ação, São Paulo, 21/22: 43-51, 1998/1999
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a realização da ciência: a ciência fenomenológica. A fenomenologia nasce no início do século XX para revitalizar a racionalidade ocidental – para tanto, Husserl realizará uma crítica ao psicologismo, ao relativismo e ao historicismo que grassavam no fim do século XIX. J.-F. Lyotard (1956,
p.6) tem razão ao asseverar que a “esperança cartesiana de uma Mathesis universalis renasce em Husserl”. É de causar espécie que um pensador com tal escopo tenha ido buscar um conceito logo entre os céticos – ou seja, os inimigos de qualquer doutrina fixa, os contestadores de toda forma de dogmatismo2 (Hussel, 1973a, p.21). O máximo que poderíamos atribuir a Husserl e sua epoché é um ceticismo mitigado, uma espécie de epoché quasi-cética, se podemos tomar de empréstimo uma expressão