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6466 palavras 26 páginas
KABENGELE MUNANGA

Algumas consideracões sobre “raça”, ação afirmativa e identidade negra no Brasil: fundamentos antropológicos
KABENGELE
MUNANGA é professor do Departamento de
Antropologia da FFLCH-USP e autor de, entre outros,
Estratégias e Poéticas de Combate à
Discriminação Racial
(Edusp/Estação Ciência).

A

história das sociedades e culturas modernas foi sempre acompa-

nhada de uma certa idéia de humanidade, de uma apreensão do ser humano pensado essencialmente através das noções de igualdade e de liberdade. À medida que a significação e o alcance dessa idéia moderna de humanidade foram se aperfeiçoando, ela se viu atravessada por uma tensão muito forte entre duas exigências comparativamente opostas (Mesure & Renaut,
1999, p. 18).
A primeira exigência corresponde à convicção constitutiva de um primeiro humanismo moderno, conforme o qual a humanidade é uma natureza ou uma essência. Na lógica desse humanismo chamado essencialista (tal como se desenvolveu na filosofia das Luzes), a humanidade define-se pela posse de uma identidade específica ou genérica, por exemplo, a que faz do homem um animal racional. No horizonte dessa primeira exigência afirmam-se com clareza os valores do universalismo ou do humanismo abstrato e democrático, tal como foi concebido pela afirmação segundo a qual existe uma natureza comum a todos os homens, idêntica em cada um deles, em virtude da qual eles têm os mesmos direitos, quaisquer que sejam suas características distintivas (de idade, de sexo, de etnia, etc.).
A segunda exigência se fez presente desde o fim do século XVIII na Alemanha, depois na
França e na Inglaterra, na medida em que alguns efeitos perversos da primeira exigência se deixaram perceber. Essencialmente, a representação da humanidade em termos de identidade indiferenciada podia também desembocar na perspectiva de uma tirania do universal, e o

conceito essencialista do homem podia igualmente servir de pretexto para discriminar, do resto da humanidade, os indivíduos
ou

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