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República
Flávio A. M. de Saes
As polêmicas a respeito da industrialização na Primeira República não se restringem, em geral, a limites estritamente acadêmicos pois os argumentos apresentados deviam, à sua época, servir de apoio a propostas de política econômica (ou à crítica de políticas em vigor) e à compreensão do alinhamento político de determinados grupos sociais. Por esse motivo, tais polêmicas não perderam atualidade: muitas das questões de fundo aí presentes são recolocadas hoje, por vezes de modo muito semelhante ao dos anos 60 e 70.
O objetivo deste artigo não é, portanto, o de encerrar as polêmicas a respeito da industrialização na Primeira Republica ao indicar teses e posições corretas. Pretende-se apenas fazer um balanço da controvérsia em algumas de suas principais vertentes, indicando, sempre que possível, a atualidade das questões colocadas em foco.
Não se pretende, também, ser exaustivo no exame das inúmeras contribuições ao debate. A escolha de alguns autores, tidos como representativos de determinadas posturas, envolve as limitações e preferências do autor. Daí existir grande risco de exclusão de obras de grande relevância para a discussão do tema. Vale lembrar ainda que a exposição não segue a ordem cronológica das obras comentadas pelo fato de centrar-se apenas em algumas questões particularmente importantes para a discussão do tema.
Finalmente, cabe registrar que não há intenção de reconstituir o processo de industrialização em si, mas apenas alguns aspectos da controvérsia que se estabeleceu em relação a ele.
A Indústria Brasileira nos anos 30: a polêmica entre Furtado e Peláez
A discussão de nosso tema — a industrialização na Primeira República — nos conduz a um ponto de partida que se situa um pouco além do final daquele período. A análise de Celso Furtado sobre o crescimento industrial dos anos 30 e as críticas a ele formuladas por Carlos Manoel Peláez antecipam os principais
argumentos