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VALORIZANDO A TOLICE
Um dos grandes males do aprendizado convencional é tratar as coisas mais simples com excesso de seriedade, tornando-as complexas, intelectualmente distantes e praticamente inacessíveis à maioria dos pobres mortais.
Na verdade, o mundo em que vivemos já é por demais estafante para continuarmos complicando o que deve ser simplificado, no entanto, o que podemos fazer diante do imenso poder dos doutos pedagogos?
Os escritores modernos tentam de várias maneiras inventar métodos de ensino que facilitem o aprendizado, porém falham por não levarem em consideração a linguagem primitiva, original, do ser humano: a comunicação psicológica e natural das imagens mentais.
Foi pensando nesta questão que decidi encontrar uma maneira para aliviar nossas pobres almas da escravidão dos espectros tenebrosos das letras, chegando ao seguinte raciocínio:
“Se os nossos estudantes aprendessem a transmutar as chamadas informações sérias em condições divertidas, relacionando-as com fatos e aspectos conhecidos, o aprendizado far-se-ia de maneira mais agradável.”
Descobri, algum tempo depois de ter chegado a esta conclusão, que o grande filósofo René Descartes, em seu livro Regras para a Direção do Espírito, teve, nos idos de 1620, um pensamento semelhante:
REGRA IX -- “É preciso dirigir toda a acuidade do espírito para as coisas menos importantes e mais fáceis, e nelas nos determos tempo suficiente, até nos habituarmos a ver a verdade por intuição, de uma maneira distinta e clara.”
Em seus comentários, ele esclarece esta Regra da seguinte maneira:
“É, pois, no que há de mais fácil que devemos exercitar-nos, mas com método, a fim de que, por vias abertas e conhecidas, nos acostumemos, como quem brinca, a penetrar sempre até à íntima verdade das coisas: por este meio, com efeito, será em seguida, pouco a pouco, e num tempo mais curto do que ousaríamos esperar, que também teremos consciência de poder, com igual facilidade, deduzir de princípios evidentes várias