Este artigo traz questões sobre as brincadeiras de meninos e meninas, sobre o modo como se relacionam e se manifestam culturalmente frente às questões de gênero [1 Nota de Rodapé]. Analiso como as hierarquias de gênero são contestadas e mantidas por crianças, de 4 a 6 anos, que vivem no ambiente coletivo e público de uma Escola Municipal de Educação Infantil de Campinas - SP. Discuto as formas de brincadeiras de meninos e meninas, buscando questionar o fato "natural" de que ambos possuem papéis e comportamentos pré-determinados. Será verdade o que nós aprendemos sobre as formas de brincadeira que meninos e as meninas praticam? Pesquisas afirmam que "Elas preferem as bonecas, eles os carros" [2 Nota de Rodapé], e também que “Elas brincam de roda e eles jogam bola” [3 Nota de Rodapé]. Devemos enxergar como natural o fato de que meninos e meninas possuem papéis e comportamentos pré-determinados? Este estudo parte da concepção de criança, não do ponto de vista do adulto, apenas como dependente dele, mas como um indivíduo capaz, produtor de cultura e portador de história. Tais considerações revelaram-se importantes para pesquisar a cultura infantil, sua produção e as condições em que esta se dá. Ao pensar a criança e a produção da cultura infantil, encontrei na brincadeira uma das suas múltiplas formas de expressão: a forma como a criança se manifesta culturalmente. A brincadeira apresentou-se como um meio para conhecer e observar a criança mais de perto, um momento em que a riqueza das relações favorece a produção da cultura infantil. Porém o estudo se defrontou com as dificuldades em trabalhar com as questões de gênero na infância, o que se traduz na carência de pesquisas sobre o tema. Tal escassez é ainda maior na área da educação de crianças de 0 a 6 anos, onde pesquisas que articulam gênero, relações entre crianças e práticas educacionais são raras. Faria (2002a) aponta que a questão de gênero na pesquisa educacional ainda é um tema pouco explorado. De