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Quinze anos após a edição original em ita liano (Einaudi, 1985), chega ao Brasil o hoje clássico A herança imaterial. E chega bem, porque no caminho acabou por incorporar o belo prefácio que Jacques Revel escreveu para a edição
francesa,
lançada
pela
Gallimard em 1989.
Talvez Revel esteja correto, e o livro de
Giovanni Levi seja um sintoma da urgência de renovação há muito buscada pela histo riografia ocidental. Afinal, nem o marxismo nem o estruturalismo, apenas para citar dois exemplos de perspectivas hegemônicas do pós-guerra, são hoje portos seguros. Creio que
/I herança imaterial é, porém, muito mais do que isto, pois responde categoricamente a esta urgência, contribuindo de modo original para o estabelecimento de outras formas de fazer história.
É absolutamente magistral o modo como
Levi tece sua estratégia m icro-histórica.
Escolhe o povoado piemontês de Santena, em princípio desprovido de maior importância no século XVII, e uma trajetória pessoal (a de
Giovan Battista Chiesa) igualmente comum. 0 quadro pacientemente montado remete-nos a
traços típicos do Antigo Regime, sem contudo deixar de inovar. É quando se demonstra o quanto pode ser profícuo o diálogo entre a
História e a Antropologia, especialmente com a corrente substantivista de Karl Polanyi.
Mas A herança imaterial não pode ser lido sob uma ótica maniqueísta, própria daqueles que estão muito mais à cata de novidades e da palavra fácil do que do enfrentamento dos impasses por que passa a disciplina História hoje em dia. Especialmente em países como o nosso — cuja produção historiográfica é pobre, mesmo no âmbito da América Latina — , o livro de Giovanni Levi não deve ser apreen dido a partir de uma difusa e estéril con traposição entre o micro e o macro, entre o co letivo e o individual, entre as regularidades e as singularidades. Ao contrário, para nós, brasileiros, é possível que a riqueza deste tra balho radique exatamente em prover-nos de pistas extremamente