1. SOBRE O CARÁTER DIALÓGICO E IDEOLÓGICO DO DISCURSO

Os discursos, conforme a perspectiva da AD, acontecem na história, são materializados pela linguagem e providos de ideologias. Estão sempre sofrendo “atravessamentos” de discursos que os precederam e dialogando com os que o sucederão, mantendo um constante duelo, legitimando-os ou confrontando-os. A esse princípio constitutivo dos discursos, Bakhtin dá o nome de dialogismo, destacando que o discurso não é uma obra fechada e acabada, encenada por apenas um indivíduo, mas é um processo heterogêneo, visto que a palavra alheia se faz sempre presente na consciência do indivíduo. Esse processo não acontece de forma passiva, mas ocorre através de uma interação tensa, um conflito entre a palavra do eu e a palavra do outro.
Nossos enunciados são sempre perpassados pela palavra do outro e são, também, a palavra do outro. Assim, toda palavra constitui-se a partir de outra palavra e todo discurso está voltado para os discursos que o rodeiam. Segundo a perspectiva bakhtinana “o outro é imprescindível na construção do eu”. Assim, as relações sociais se dão em contextos de interação entre indivíduos socialmente localizados e, o indivíduo se constitui sujeito à medida que vai ao encontro do outro.
Ao nos comunicarmos fazemos uso de discursos outros que herdamos e atualizamos em função de nossas necessidades, mas a escolha das palavras que usamos não se faz de maneira aleatória. Essa escolha está ligada ao modelo de organização do enunciado que é determinado pela proposta de comunicação. Da mesma forma, o locutor, nesse processo, está em diálogo constante com um interlocutor que pode estar presente em uma interação face a face ou pode ser separado no tempo e no espaço. Assim, o princípio dialógico é constitutivo de toda a comunicação e, essa comunicação se dá através de um processo de interação que ocorre em um contexto histórico e nos limites de uma formação social, sofrendo as influências impostas por esses fatores.
Nossos discursos, segundo Bakhtin, são moldados em formas