04 IARA Barthes Versao Final
Mariza Werneck
Doutora em Ciências Sociais - Antropologia e professora do Departamento de Antropologia da
Pontifícia Universidade Católica
mmfw@uol.com.br
Decifrar os signos do mundo.
Isto quer sempre dizer
Lutar com uma certa inocência dos objetos.
Roland Barthes (1964).
RESUMO
Este artigo pretende compreender o livro Sistema da moda não apenas no conjunto da obra barthesiana, mas também no contexto em que foi escrito. Tenta ainda esclarecer alguns de seus pressupostos e levantar algumas chaves de leitura. Para tornar isso possível, revisita as décadas de 1950 e 1960, quando a França, mal-refeita das feridas da Segunda Grande Guerra, mergulhou, de cabeça, na aventura estruturalista.
Palavras- chave: Roland Barthes, estruturalismo, semiologia, lingüística, moda.
IARA – Revista de Moda, Cultura e Arte - São Paulo - v.1 n. 1 abr./ago. 2008.
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Roland Barthes escreveu sobre literatura, cinema, música, artes plásticas, teatro, fotografia. Aproximou autores aparentemente tão díspares entre si como Sade, Fourier, Loyola.
Em seus escritos, foi também leitor atento e singular de Flaubert, Proust, Balzac, Racine,
Michelet. E debruçou-se, com igual paixão, sobre os mais diversos campos de conhecimento, como a lingüística, a psicanálise, a semiologia.
Como se não bastasse, e com o mesmo rigor, escreveu sobre sabão em pó, bife com batatas fritas, o olhar de Greta Garbo, o discurso amoroso, o vinho e o leite. E escreveu também sobre moda.
Sem preconceitos temáticos, Barthes foi, em tudo, um homem de seu tempo, e projetou uma mesma e fina inteligência sobre todos os objetos que considerava dignos de serem pensados, independentemente de eles pertencerem ao universo da cultura de massa, ou ao domínio da mais exigente erudição. Sobre cada um dos temas que tratou, lançou um olhar diferenciado. Em cada livro que escreveu inaugurou um gênero, celebrando sempre, com uma liberdade até então desconhecida, nos domínios da