A Crise das Utopias: A Esquerda nos romances de Antonio Callado por Giselle Larizzati Agazzi

do mundo, constituindo o seu fracasso na tentativa de tornar efetiva essa adequação, o objeto mesmo da narrativa.”1: “- Logo agora – disse Gonçalo – quando o Governador pro – mete resolver o problema do Auxiliadora apesar da terrível situação do país. Sabe que ele escreveu uma carta a todos os Governadores do Nordeste dizendo que vem ai um golpe mi- litar? Tinha, Nando tinha ouvido falar, mas a notícia não entrava no contexto das coisas aceitáveis. A pequena área comum de mun- do limpo arado e semeado pelos homens como criatura maio- res do que elas mesma não podia ser assim envenenada a pon- to de levar cada um de novo à casca da sua própria pele” (p. 421) O herói deixa de pertencer, portanto ao tipo lukácsiano que corresponderia ao „idalismo abstrato‟, como ocorre nos quatro capítulos anteriores, para 1 LUKÁCS, Georg. Op. Cit. (p. 129) 72 identificar-se com o „romantismo da desilusão‟. A nova fase de Nando continua a apresentar uma inadaptação entre a alma e a realidade, mas, agora, essa inadaptação “decorre do fato de a alma ser mais ampla e mais vasta do que todos os destinos que a vida pode lhe oferecer”. A diferença que daí decorre está no fato de a discordância entre a interioridade e o mundo estar na construção de um ideal concreto, qualitativo e rico em conteúdo – e não de um ideal absolutamente abstrato – que concorre com a realidade. Portanto, se antes Nando desejava construir um novo império católico, no coração do Brasil, agora ele projeta, a partir…