Vladimir safatle - curso completo sobre a 'fenomenologia do espirito', de hegel [30 aulas] [filosofia - usp] aula 03

6585 palavras 27 páginas
Curso Hegel
Terceira aula

Na aula passada, começamos a leitura da Fenomenologia do espírito através de um trecho de seu prefácio que vai do primeiro parágrafo até o parágrafo 17. Nele, vimos Hegel definir, como objeto privilegiado da reflexão filosófica, as expectativas da modernidade e de seus modos de racionalização das dimensões cognitivo-instrumental, prático-moral e estético-expressiva. Uma reflexão que deveria apreender tais expectativas e processos a partir de uma perspectiva capaz de revelá-los como resultados de processos de formação legíveis no interior de uma compreensão racional da história. No entanto, vimos como Hegel definia a modernidade como um momento de cisão. O espírito perdeu a imediatez da sua vida substancial, ou seja, nada lhe aparece mais como substancialmente fundamentado em um poder capaz de unificar as várias esferas de valores sociais. Ao contrário, para Hegel, a modernidade deve ser compreendida como este momento que está necessariamente às voltas com o problema da sua auto-certificação. Ela não pode mais procurar em outras épocas os critérios para a racionalização e para a produção do sentido de suas esferas de valores. Ela deve criar e fundamentar suas normas a partir de si mesma. Isto significa que a substancialidade que outrora enraizava os sujeitos em contextos sociais aparentemente não-problemáticos está fundamentalmente perdida. Em uma análise hoje clássica, Hegel indica três acontecimentos que foram paulatinamente moldando a modernidade em suas exigências: a reforma protestante [com sua confrontação direta entre o crente e Deus através da subjetividade da fé], a revolução francesa [que colocava o problema do Estado Justo enquanto aquele capaz de conciliar aspirações de universalidade da Lei e exigências dos indivíduos] e o Iluminismo [que, segundo Hegel, terá em Kant sua realização mais bem acabada]. Em todos estes acontecimentos, o que parece impulsiona-los é o aparecimento do que poderíamos chamar de

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