Fundamentalismo: escritura e teologia entre fé e razão
Maria de Lourdes Corrêa Lima
O fundamentalismo é hoje uma questão relevante, senão a grande questão do século XXI. Está presente em numerosos grupos, de tendências variadas, inclui elementos diversos e indica, em seu uso largo, uma perspectiva religiosa, uma cosmovisão, uma filosofia, uma teoria política, caracterizada pelo radicalismo de seus princípios e pela militante utilização de meios violentos para expansão de seus princípios. Designa por vezes grupos religiosos denominados “conservadores” ou grupos populares, ligados ou não a ideias religiosas, que professam ideologias radicais e intolerantes. Renunciando a uma investigação exaustiva do fenômeno, o interesse do presente estudo diz respeito ao fundamentalismo cristão em sua perspectiva religiosa. O tema será tratado teoricamente, em seus princípios, não se detendo numa particular manifestação. A perspectiva é particularmente bíblica e teológica. A finalidade é compreender o fenômeno, seu aparecimento e desenvolvimento, traçar suas principais características e apontar possíveis ganhos e problemas. Pretende-se ainda aprofundar algumas das principais questões envolvidas. Sendo um dado apontado como preocupante no mapa religioso nas últimas décadas, tanto mais transparece a relevância da temática. 1. O fenômeno, seu surgimento e desenvolvimento A origem do termo remonta a uma determinada forma de conceber e viver a fé cristã cunhada por parte de algumas igrejas protestantes (particularmente presbiterianas) dos Estados Unidos entre o final do século
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XIX e primeiras décadas do século XX. É neste sentido restrito que o termo será empregado aqui e que será abordada a temática1. 1.1. Das origens até a primeira grande guerra2 O progresso das ciências naturais e humanas levou, na segunda metade do século