Perfilados de Medo

558 palavras 3 páginas
Alexandre O’Neill optou por fazer referência ao Portugal seu contemporâneo e à forma como as pessoas viviam a partir das metáforas do medo e dos monstros para ilustrar a perseguição, a diminuição da confiança que havia entre os seres humanos, fazendo com que as pessoas olhassem os familiares e a si próprios como se de estranhos se tratasse e não ousassem divulgar as suas ideias. Essa indistinção entre homens e seres nocivos ao seu próprio semelhante é notória, quando O’Neill afirma que: “Monstros e homens lado a lado/Não à margem, mas na própria vida.//Absurdos monstros que circulam /Quase honestamente.” (Alexandre O’Neill, No Reino da Dinamarca, 1958)

Consciente da forma como o Estado controlava tudo e todos, O’Neill opta por referir-se a esses braços tentaculares e invisíveis como se fossem monstros. Misturados entre os homens, esses seres terríficos deambulam “honestamente”, já que foram criados pelo poder instituído, e procuram ter acesso aos pensamentos das pessoas, dado que circulam indetetáveis, geram o medo que acompanha os homens em todas as situações por mais quotidianas que elas sejam.

Essa proliferação do medo está patente em “O Poema pouco original do medo” e “Perfilados de Medo”. No primeiro, o autor evidencia o domínio avassalador do medo: ele “vai ter tudo”, desde aspeto humano até aos objetos de luxo. A forma como os delatores se imiscuíam em todas as situações é enfatizada por essa personificação do medo; não só ele vai ter “pernas” como “olhos”, “mãozinhas”, “ouvidos”, vai assumir a forma dos funcionários de Estado ou mesmo dos familiares e dos amigos. Decorrente dessa situação, o medo apodera-se de todos transformando-os em “ratos”, em seres dominados pelo terror incapazes de reagir e de ousar pensar. A capacidade de ter acesso aos mais íntimos pensamentos das pessoas torna-se notória pelo facto de os “ouvidos” do medo poderem estar “nas paredes”, “no chão”, “no tecto” e até “nos teus ouvidos”. Uma vez que esses delatores não são

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