Baltazar E Blimunda

Baltazar e Blimunda

1º Acto – Encontro de Blimunda e Baltazar, num auto-de-fé, onde a mãe de Blimunda estava a ser condenada a ser chicoteada em praça pública a oito anos de degredo em Angola.

“Grita o povinho furiosos impropérios aos condenados, guincham as mulheres debruçadas nos peitoris, alanzoam os frades, a procissão é uma serpente enorme que não cabe direita no Rossio e por isso se vai curvando e recurvando como se determinasse chegar a toda a parte ou oferecer o espectáculo edificante a toda a cidade…”

Narrador: Baltazar Mateus, o Sete-Sois, está calado, apenas olha fixamente Blimunda, e de cada vez que ela o olha a ele sente um aperto na boca do estômago. Veio a esta casa não porque lhe dissessem que viesse, mas Blimunda perguntara-lhe que nome tinha e ele respondera, não era melhor razão. Terminado o auto-de-fé, varridos os restos, Blimunda retirou-se, o padre foi com ela, e quando Blimunda chegou a casa deixou a porta aberta para que Baltazar entrasse. Blimunda serviu-se da colher de Baltasar e o padre diz:
Padre Bartolomeu: Aceitas para tua a colher de que se serviu a boca deste homem, fazendo seu o que era teu, agora tornando a ser teu o que foi dele. Então declaro-vos casados
Narrador: O Padre Bartolomeu Lourenço esperou que Blimunda acabasse de comer da panela das sopas que sobejavam, deitou-lhe a bênção, com ela cobrindo a pessoa, a comida e a colher, o regaço, o lume na lareira, a candeia, a esteira do chão, o punho cortado de Baltazar. Depois saiu. Por uma hora ficaram os dois sentados, sem falar.
Baltazar: Porque foi que perguntaste meu nome?
Blimunda: Porque minha mãe o queria saber e queria que eu o soubesse.
Baltazar: Como sabes? Se com ela não pudeste falar.
Blimunda: Sei que sei, não sei como sei, não faças perguntas a que não posso responder, faze como fizeste, vieste e não perguntaste porquê. E agora, Se não tens onde viver melhor, fica aqui.
Baltazar: Hei-de ir para Mafra, tenho lá família, Mulher, Pais, e uma irmã.
Blimunda: