Alcântara sitiada
Luiz Alberto Ferreira
Todos os dias úteis da semana a cena se repete pela manhã e pela tarde: uma lancha do Comando da Aeronáutica atraca em Alcântara (MA), e dela descem aproximadamente 160 pessoas, a maioria militar. São funcionários do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), quartel e base de lançamento de foguetes, chegando de São Luís para mais um dia de trabalho. Ainda hoje, vinte e cinco anos após a implantação do CLA, a população alcantarense pára para ver aqueles “estranhos” invadindo seu habitat como alienígenas não em missão de reconhecimento, mas de domínio e posse não só do espaço aéreo, mas principalmente de suas terras e recursos naturais. Uma área de 62 mil hectares, mais da metade do município que possui 114 mil hectares, passou ao controle do Comando da Aeronáutica; aproximadamente um terço dessa área foi transformada em Área de Segurança, abrangendo quase todo o litoral e praias do município.
Em 1982, dois anos após a desapropriação inicial de 52 mil dos 62 mil hectares pretendidos pelo Comando da Aeronáutica, quando o projeto de implantação do Centro de Lançamento começou a sair do papel, o município de Alcântara possuía em torno de 15 mil habitantes sendo que mais de dois terços residia na zona rural, praticando agricultura de subsistência e pesca como atividades econômicas principais. A maior parte da população ainda vive nos 90 bairros rurais existentes na área desapropriada. Alcântara foi transformada em Cidade Histórica e Monumento Artístico em 1948 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) devido às ruínas, igrejas e casarões dos séculos XVIII e XIX ali existentes. A cidade mais parece um “museu ao céu aberto”. Suas ruas calçadas em pedra bruta, as ruínas e casas feitas da mesma pedra e seus poços bi e tricentenários chamam a atenção de todos que passam pela cidade. Andar pelas ruas hoje preservadas é como voltar no tempo. O visitante, ao desembarcar no Porto do Jacaré, começa uma